O importante em um game é...

Quando chega o anúncio de uma nova safra de consoles já pensamos nos games que compraremos, ficamos sonhando acordados sobre como os jogaremos e como passaremos horas de diversão sem fim em multiplayers ou aventuras... Mas, quando o dito cujo é lançado, muitos jogadores se perdem no caminho e começam a perceber que um determinado game sairá na máquina concorrente, que a versão do outro ficou melhor, ou que simplesmente algumas coisas não saíram do jeito que se esperava. E então, o que fazer?

O passado sempre parece melhor do que realmente foi?
Fica muito difícil imaginar o mundo sem os videogames nos anos 80, 90 e principalmente no início do século XXI. Mas a indústria de jogos eletrônicos, só em âmbito financeiro, se tornou monstruosamente lucrativa: para se ter uma idéia, em 2007, foram nove bilhões de dólares ganhos apenas nos EUA, segundo relatório da Entertainment Software Association (ESA).

Então tente imaginar a falta que sentiríamos só pela paixão de sermos gamers ávidos, fanboys da Nintendo, da Sony, da Microsoft, ou até mesmo da SEGA, caso os consoles não existissem. Horas de divertidas discussões sem fundamento, como se o SNES seria melhor que o Mega Drive, não teriam acontecido. Aliás, já é bastante difícil imaginar o mundo sem videogames.

- Anos 80

Particularmente, comecei na era 16 bits com meu amado SNES, mas qualquer marmanjo que tenha seus vinte e poucos anos se lembra bem do processo: enquanto não tinha nem nascido, digamos... 1984, meus tios presenciaram os jogos de computadores virando a mesa pra cima dos consoles (com a crise da Atari). Em 1985, um ano mais tarde, o mercado norte-americano seria ressuscitado com a chegada do Nintendinho acompanhado por Super Mario Bros. –- sucesso instantâneo.

A geração 8-bit trouxe mudanças nos controles, com um gamepad mais prático no lugar do joystick, pedais e coisas bizarras. Uma cruz direcional (d-pad) com dois botões de ação se tornaram o novo padrão. Franquias famosas ganharam vida e, acima de tudo, fãs. Super Mario, Zelda, Metal Gear, Dragon Quest, Final Fantasy, Metroid e uma lista gigantesca que seria capaz de lotar o servidor!

Toda essa farra duraria até o começo dos anos 90 com a chegada dos consoles 16-bit e suas novidades e todas suas tecnologias.

- Anos 90 – primeira metade
Nessa época o mercado de jogos eletrônicos começava a entrar na adolescência enquanto os processadores ganhavam mais poder e ficavam mais baratos. O 3D começava a engatinhar timidamente com gráficos chapadões (Elite, Alpha Waves, Wolfenstein 3D) enquanto o mundo bidimensional nos presentearia com o melhor que tinha para oferecer: Super Mario World, Sonic, Metroid, Castlevania, Megaman, Street Fighter, Mortal Kombat, Crono Trigger e uma infinidade de títulos memoráveis que mais tarde migrariam para os novos recursos tecnológicos.

Mas, peraí, cadê as inovações? Ou eu deveria dizer... revoluções? São inúmeras, começando pelo SNES que trouxe uma bazuca (com diversos jogos), um mouse para o diferente Mario Paint, chips com funções específicas dentro dos cartuchos como o SuperFX – capaz de gerar polígonos em StarFox; a SEGA também não comeu poeira e criou o Sega-CD, o tapete que tomava o lugar do controle, entre inúmeras conquistas. Isso só no departamento da tecnologia.

E por falar em inovações, a década toda seria marcada pelo domínio supremo na área de consoles portáteis pelo GameBoy e suas diversas encarnações, um videogame que poderia ser levado a qualquer lugar, a qualquer hora – só a falta de luz poderia te impedir de jogar. Ou a sua mãe se te proibisse, ou aquele tio que roubava as pilhas para colocar no controle remoto da tevê... Nunca se sabe. O fato é que se temos o DS e o PSP hoje, o hábito foi criado pelo saudoso GameBoy.

Avanços em outras áreas (até mais) significativas foram feitos: o conceito dos jogos mudou, já tinham histórias mais elaboradas e complexas; as músicas não eram barulhinhos tão repetitivos mais; aumentava a preocupação com o público que crescia a cada dia, com jogos mais adultos, melhor terminados; dois jogadores ou mais ganhavam as telas.

Quem viveu, viveu. Não sei se é porque eu era uma criança maravilhada com a luz da descoberta ou o quê -- parece ter sido a época de ouro dos games. Será? Alguns games tinham a magia de parecerem impossíveis, afinal, pode ser bem difícil terminar um game complexo quando se tem 8 anos... Só que o mundo muda outra vez...

- Anos 90 – segunda metade
Eis que num belo dia começa a sair imagens do Sega Saturn, PlayStation, e depois o Nintendo 64. Mídias óticas para os dois primeiros possibilitavam arquivar mais texturas, áudio de melhor qualidade e até mesmo diálogos e vídeos cinematográficos. O Saturn não durou muito, mas deixou suas marcas (cof*NiGHTS*cof). PlayStation e N64 travaram uma briga estranha, com um domínio do console menos potente, mas argumentos (e jogos) generosos para ambos os lados.

Não tínhamos mais uma silhueta de quarenta pixels do Mario correndo de um lado para outro da tela. Fomos apresentados ao esplendor do mundo 3D e agora tínhamos um encanador italiano poligonal que corria na direção que quiséssemos. Éramos capazes de saltar de N formas diferentes, e os controles ganhariam a função analógica e o rumble (aquela paradinha que treme quando você atira nos inimigos ou quando passa um sabre de luz no Darth Vader).

Nossa, tô me arrependendo de dizer que a era 16-bit foi a época de ouro. Subitamente me lembro de Super Mario 64, GoldenEye, Final Fantasy VII... Isso porque 1998 ainda estava por vir. Zelda Ocarina of Time e Metal Gear Solid chegaram quebrando tudo. Não deveriam fazer tudo isso no mesmo ano, coisa de apelão. Mais tarde ainda veríamos Medal of Honor, Perfect Dark, Conker’s Bad Fur Day...

Finais da década de 90 e tínhamos o Dreamcast, moribundo desde seu lançamento, mas que também deixou seu legado. Em seguida viria o estrondoso PlayStation 2 (PS2) -– compatível com DVDs, conexão on-line, gráficos maravilhosos. Novamente o conceito de jogos se expande: games musicais aparecem com vontade, first-person shooters são reinventados (graças a GoldenEye), novos gêneros ‘brotavam’ a cada lançamento.

Em um passado não muito, muito distante... E no presente também...
Após a virada do milênio, chegaram os concorrentes do PS2: o Xbox, da então novata Microsoft; e o Gamecube, da veterana Nintendo. O grande caixote em forma de X começou bem tímido, principalmente pelo poder que viria demonstrar mais tarde. O cubo mágico foi altamente cotado e tinha o amparo do seu irmão pequeno, o Game Boy Advance (GBA).

O resultado da brincadeira ainda é presenciado, porém é engraçado analisar o desenvolver das coisas: o criticado Xbox virou a mesa, se tornou um console alternativo excelente; o Cube penou e não emplacou como o previsto, mesmo com uma excelente jogoteca. Em contrapartida o GBA foi um sucesso e o PS2, com um ano de dianteira e um começo assustador com problemas no canhão, conseguiu se curar e seguir em frente.

Enquanto a geração dos 128-bit morria, muita especulação se criava sobre a próxima leva. Disseram que a Nintendo se retiraria do mercado de consoles e continuaria com jogos. Uma disputa paralela entre HD-DVD e Blu-Ray era financiada entre X360 e PlayStation 3. Disseram que a Sony entraria no mercado de portáteis. Alguns fatos se concretizaram, outros não. A Nintendo não saiu do mercado e prometeu uma revolução, a Sony disse que traria mais poder do que nunca e todos pensaram que o PS3 viria destruidor. Quem lê isto sabe como as coisas se desenrolaram.

O futuro será melhor amanhã?
Bom, muita retrospectiva e pouca discussão. O objetivo aqui é tentar fazer a reflexão do que vale a pena criticar e do que não vale. É muito sério acusar “jogos conceito” de um monte de conceito visual com pouco conteúdo, ou dizer que hits como GTA devem dominar o mercado.

A verdade é que a indústria evoluiu como nos filmes em todas as direções. Temos público para praticamente tudo que vier por aí. Não devemos ser ecléticos, devemos jogar o que gostamos, mas nunca pisando demais nos outros.

Assumo que sou fanboy da Nintendo, mas existem jogos nas outras plataformas que me fascinam tanto quanto Zelda ou Metroid. Não há um melhor, são três grandes empresas de qualidade buscando se superar, e essa disputa nos proporciona o melhor dos cenários: temos que ser conquistados.

A rápida análise através dos anos nada mais é que um recurso para tentar buscar a nostalgia. Por deus! Parece que quando lembro de jogar Super Metroid pela primeira vez foi a melhor sensação em frente um console e que nunca se repetiria. Daí eu lembro de Perfect Dark. E depois de Metroid ou Metal Gear. Nostalgia é perigosa e pode enganar.

No presente, se ficarmos dizendo que o Wii corrigirá os gráficos “fraquinhos” quando chegar o Wii2, podemos perder games como Smash Bros. Brawl e Metroid 3; se dissermos que o PS3 é um console que serve para fazer grill e não para jogar, perderemos o Metal Gear 4; e o X360, com mais títulos, jogatina que agora podemos até chamar de old-school! Já pensaram?

E para o futuro, relaxem e gozem. Comparações odiosas e expectativas demais não são coisas boas: elas privam e cegam um jogador de experimentar coisas legais e se divertir sem limites no agora. O importante é sempre expandirmos nossos conceitos, como os videogames expandiram, cresceram e evoluíram durante quase duas décadas. O importante é se divertir. Sempre. Sempre de novo. E de novo. De novo, de novo, de novo, de novo...

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